Publicado em 21/09/2022

Mural de Eduardo Kobra na fachada da ONU convida à reflexão

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A ação inédita de levar a arte de rua à parede externa da ONU, em Nova York, foi aprovada pelo Comitê de Artes da organização, que reconheceu que a arte de Kobra “é alinhada com os ideais das Nações Unidas”. 

O conhecido muralista brasileiro Eduardo Kobra, 47 anos, inaugurou um mural, de 24 metros de comprimento por 14 metros de altura (336 metros quadrados), em uma das fachadas da Organização das Nações Unidas, em Nova York. O mural “O Futuro é Agora!” (The Future is Now!) - nome escolhido por Kobra nesta segunda-feira, 19 de setembro - está situado na E 42nd St & 1St Ave (https://goo.gl/maps/oUc1krDgqpuGfVtbA).

O mural surge em um período importantíssimo, já que de 20 a 26 de setembro acontece na ONU a Semana de Alto Nível da 77.ª Assembleia Geral, a primeira totalmente presencial desde o início da epidemia do Covid-19. Sob o tema “Um Momento Divisor De Águas: Soluções Transformadoras Para Desafios Interligados”, representantes de 193 países, a maioria líderes mundiais, vão discutir questões como a reconstrução pós-Covid, Guerra na Ucrânia, desenvolvimento sustentável e direitos humanos.

A iniciativa inédita de levar a arte de rua ao muro externo da ONU foi aprovada - há pouco mais de uma semana, dez dias antes do início da Semana de Alto Nível- pelo Comitê de Artes da organização, que reconheceu que a arte de Kobra “é de acordo com os ideais das Nações Unidas.” Na última quarta-feira, 14 de setembro, a vice-secretária-geral das Nações Unidas, a nigeriana-britânica Amina Mohammed, visitou o mural de surpresa. Admirada, disse que “é uma obra magnífica, que fala da nossa geração e das gerações futuras e que representa todas as cores das pessoas” do mundo. “Adorei o mural”, exclamou para Kobra. Na sexta-feira, Kobra recebeu em frente ao mural a visita de Catherine Pollard, presidente do Comitê das Artes da ONU e subsecretária-geral das Nações Unidas para Estratégia, Diretriz e Conformidade de Gestão, que elogiou a qualidade do mural, as cores e a escolha do tema.

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“Após receber o convite, pesquisei o tema da Assembleia Geral e vi que convergia para os assuntos que cada vez mais fazem parte do meu trabalho, especialmente a sustentabilidade. Pensei em um mural onde um pai entrega a Terra à filha. Desta forma, busco contribuir para a reflexão sobre qual é o planeta que queremos entregar às próximas gerações”, diz o artista, que para realizar a obra contou com o apoio cultural da The House of Arts, plataforma de negócios contemporâneos que conecta todas as formas de manifestações culturais e autoexpressões em arte e moda, mesclando criadores, pintores, designers, visionários e empreendedores.

Segundo Kobra, todos devem se perguntar como é que estamos cuidando do nosso planeta. “O futuro é agora! O futuro já começou e a responsabilidade é de todos nós. Foi por isso que coloquei no mural, que está situado em um local que recebe tantos líderes importantes, um brasileiro comum, que realiza essa ação de entregar o planeta a sua filha. É responsabilidade de todos cuidar da nossa casa, que é o Planeta Terra. E lá no epicentro, coloquei a América Latina, para reforçar a mensagem do cuidado que devemos ter em cuidar e preservar a nossa querida floresta amazônica.”

Sobre Eduardo Kobra

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Kobra, 47 anos, é um expoente da neo-vanguarda paulistana. Começou como pichador, tornou-se grafiteiro e hoje se define como muralista. Seu talento brota por volta de 1987, no bairro do Campo Limpo com o pixo e o graffiti, caros ao movimento Hip Hop, e se espalha pela cidade e pelo mundo. Com os desdobramentos que a arte urbana ganhou em São Paulo, ele derivou - com o Studio Kobra, criado em 95 - para um muralismo original - inspirado em muitos artistas, especialmente os pintores mexicanos e norte-americanos, beneficiando-se das características de artista experimentador, bom desenhista e hábil pintor realista. Suas criações são ricas em detalhes, que mesclam realidade e um certo “transformismo” grafiteiro.

Muitos críticos afirmam que a característica mais marcante de Kobra é o domínio do desenho e das cores. Mas o que é fundamental para o artista é o olhar. Kobra foi desde cedo apresentado às adversidades da vida. Viu amigos sucumbirem às drogas e à criminalidade. Alguns foram presos. Outros perderam a vida. Foi o olhar que o salvou.

Kobra é autor de projetos como “Muro das Memórias”, em que busca transformar a paisagem urbana através da arte e resgatar a memória da cidade; Greenpincel, onde mostra (ou denuncia) imagens fortes de matança de animais e destruição da natureza; e “Olhares da Paz”, onde pinta figuras icônicas que se destacaram na temática da paz e na produção artística, como Nelson Mandela, Anne Frank, Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, John Lennon, Malala Yousafzai, Maya Plisetskaya, Salvador Dali e Frida Kahlo.  Em meio ao caos urbano, buscou resgatar o patrimônio histórico que se perdeu. Em um contexto repleto de desigualdade social e injustiças, buscou se inspirar em personagens e cenas que servem de exemplo para um mundo melhor. 

Hoje, Kobra tem 3.000 murais, em cerca de 35 países e em diversas cidades e estados brasileiros – como “Etnias – Todos Somos Um”, no Rio de Janeiro, “Oscar Niemeyer”, em São Paulo; “The Times They Are A-Changin” (sobre Bob Dylan), em Minneapolis; “Let me be Myself” (sobre Anne Frank), em Amsterdã; “A Bailarina” (Maya Plisetskaia), em Moscou; “Fight For Street Art” Basquiat e Andy Warhol), em Nova York; e “David”, nas montanhas de Carrara. Em todos os trabalhos, o artista busca democratizar a arte e transformar as ruas, avenidas, estradas e até montanhas em galerias a céu aberto.  Dois desses murais entraram no Guinness Word Record como o “maior mural do mundo”. Primeiro “Etnias – Todos Somos Um”, no Rio de Janeiro, com cerca de 3.000 metros quadrados e, depois, o “Mural do Chocolate”, localizado na rodovia Castelo Branco, em Itapevi, em São Paulo, com 5.742 metros quadrados.

Inquieto, estudioso e autodidata, também faz pesquisas com materiais reciclados e novas tecnologias, como a pintura em 3D sobre pavimentos. Em 2018, pintou 20 murais nos Estados Unidos, 18 deles em Nova York.

Cada vez mais conhecido, Kobra fica, é claro, orgulhoso quando vê uma multidão que observa um de seus murais, mas costuma dizer que o que o comove de verdade é descobrir alguém que para no meio da correria da cidade para observar, mesmo que por um minuto, os detalhes dessa obra. Apesar dos murais monumentais, Eduardo Kobra faz sua arte para despertar a consciência e a sensibilidade de cada um de nós.