Publicado em 30/10/2018

CasaCor SC: Ana Trevisan apresenta seu Jardim Estar

Arquiteta e paisagista fala das suas inspirações e da concepção de uma das áreas externas da mostra de decoração

“O ponto de partida para a integração da parte externa e interna dos espaços da mostra foi criação de uma escada ampla com patamares irregulares e moldada no local. Para tanto trouxemos uma referência da arquitetura modernista: o concreto bruto, que sem pintura e nem revestimento enaltece a beleza do imperfeito, na essência da sua forma. Acreditamos que mesmo sendo um espaço inclinado de passagem, o local poderia ser um belo convite ao passeio. Por isso em um dos degraus criamos um prolongamento que forma um banco, para convidar as pessoas para uma pausa: Estar, relaxar, sentar e apreciar os sons, movimentos, cores e texturas do Jardim.

A vegetação entrou de forma orgânica, invadindo os degraus. A escolha de espécies vegetais tropicais para composição dos canteiros levou em consideração as indicações para projetos desenvolvidos em áreas inclinadas. Exploramos a composição vegetal de mesma famílias ou por similaridade no aspecto (Fórmios, Liriopes, Dianellas, Cicas, e Dracenas) trabalhando as alturas, texturas e contrates das cores das folhagens: verde, variegata e rubro.

Presentes no Jardim também a paleta de azuis nos pufes, no balanço e na obra de arte que, combinados com os tons utilizados nas plantas, trazem uma proposta contemporânea. O posicionamento das folhagens em canteiros de linhas curvas, permeia a escada e as bordas do espaço. Destaque para as espécies adultas  de Cycas circinallis, com beleza elegante e escultural, que ganhou atenção especial, formando um conjunto de 9 indivíduos com troncos simples e duplos.

Marta Berges, criou a escultura “Abstração de um olhar” que recebe os visitantes. Uma criação tridimensional e com movimento, confeccionada em módulos de compensado naval. A peça é uma desconstrução da paisagem, inspirada nas curvas, insinuando a baía de Santo Antônio, na agua do mar, na areia, nos morros verdes e no céu. Na parte superior planejamos o espaço embaixo das únicas árvores que já estavam presentes antes da nossa intervenção: dois exemplares de Espatodeas (Spathodea campanulata). Um recanto aconchegante onde o balanço em madeira relembra a infância e os pufes convidam para a permanência. O charme fica por conta das casinhas de passarinho, as Gotinhas Birdhouse, criadas pelo Studio Lattoog.


O projeto luminotécnico destaca a escada, onde foram acoplados aos degraus perfis metálicos associados às fitas de LED resistentes à umidade, para indicação e iluminação da passagem. Para o restante do Jardim foi criada uma luz agradável aos visitantes com o cuidado de não causar danos à vegetação. O objetivo foi minimizar o posicionamento de fachos concentrados que interferem na vida das plantas e prejudicam seu desenvolvimento. Na circulação foram dispostos balizadores com 80 cm de altura, para que estes iluminem de cima e por igual orientando o caminho. Nas árvores maiores foram posicionados up-lights para destaque das copas, possibilitando também uma sensação de monumentalidade.

Gostamos muito de trazer artistas para compor o espaço: Andrey F.: poeta, escritor, compositor e cantor, criou uma série de poesias concretas que emocionam e relatam a essência do Jardim Estar, explica Ana. O projeto de Camila Petersen e Fábio Yokomiz, “Somos Parte da Paisagem” traz, na forma de lambe-lambe aplicada nos degraus da escada, historias reais que se conectam com o bairro de Santo Antônio de Lisboa, provocando um olhar sensível e afetivo sobre o local. Essa ação lembra de que a cidade é feita primordialmente de pessoas e de suas histórias, sejam elas bonitas, trágicas, engraçadas ou banais.”

 

Texto: Ana Trevisan

 Fotos: Mariana Boro