Publicado em 24/11/2022

Sociedade do Cansaço: SH*FT Festival traz reflexões sobre a busca desenfreada pelo sucesso

aaron-blanco-tejedor-VBe9zj-JHBs-unsplash.jpg

Seis das 14 palestras que acontecerão no Festival de Criatividade, têm como temas à busca por uma mais vida equilibrada, criativa e espiritualizada. Evento acontece no dia 03 de dezembro, no Ágora Tech Park, em Joinville 

O excesso de positividade, os propósitos exagerados para o sucesso no trabalho e a imersão profunda no mundo digital têm gerado crise e esgotamento à sociedade contemporânea, dando margem à "Sociedade do Cansaço" - título do ensaio do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han para a enfermidade que está acometendo a humanidade. Esta exaustão, segundo ele,  é a resposta do corpo para o excesso de positividade e cobrança que a sociedade impõe. Mas por trás deste pensamento otimista, está a realidade: o avanço do capitalismo trouxe consigo uma cultura que naturaliza a cobrança excessiva por produtividade, alta performance, resultados rápidos e, consequentemente, o cansaço.

Observadores dos movimentos contemporâneos, principalmente os relacionados a criatividade, o SH*FT Festival, que acontece dia 03 de dezembro em Joinville, incluiu em sua programação ao menos seis palestras que levam à reflexão sobre a necessidade de desacelerar para que o lado criativo ocupe lugar de destaque. Entre os temas estão a  "Semana de 4 Dias e o Futuro do Trampo", com o designer JunioVitr Vendrami;  "Precisamos desligar a Internet?", com a consultora de Marketing Digital Vitorí Helena da Silva e a "Espiritualidade nos Tempos Atuais", com o psicólogo, terapeuta e professor de  kung fu Artur Martinhago Aguiar.

"Estamos vivendo um excesso: de informação, de tecnologia, de recursos. Deveríamos estar felizes, mas quanto maior é a abundância, mais perdidos nos encontramos, afogados no exagero. E nada pior para matar o pensamento criativo do que a falta de tempo e a exaustão", explica Gabriel Mendes, coordenador do Festival. O SH*FT Festival acontece das 9h às 18h e conta com atrações paralelas em três ambientes do Ágora Tech Park, com capacidade para cerca de 400 pessoas. Interessados em participar podem acompanhar as novidades do evento pelo site e redes sociais (Twitter e Instagram)

 

Confira a seguir o que a Vitorí, o Junior e o Artur têm a falar sobre os assuntos que irão abordar:

                    


Semana de 4 Dias e o Futuro do Trampo

Por Junior Vendrami:

"Uma semana de 4 dias pode trazer de volta parte do tempo particular dos colaboradores que ficou comprometido com o avanço tecnológico e social atual. A promessa de trabalhar quando e onde quiser, em determinadas situações, acabou pressionando as pessoas a trabalharem sempre e onde estiverem, além da facilidade de comunicação das plataformas digitais e a pressão por performance que fazem o trabalho invadir a casa e momentos antes privativos do colaborador. Para trabalhos essencialmente intelectuais, uma pausa no meio da semana ajuda a recarregar melhor o ânimo e a força mental das pessoas - as duas pernas da semana ficam mais produtivas -, ao passo em que trabalhos braçais possam se beneficiar mais de uma pausa mais longa, ou seja, 3 dias de descanso seguidos. "

A Web Ficou Tóxica? 

Por Vitorí Helena da Silva:

"O fato de sermos tão passivos em relação aos dispositivos inseridos em nossa rotina. Deixamos os smartphones nos dominarem, de certa maneira. A sensação de resposta imediata que uma mensagem no WhatsApp desperta, os elogios que recebemos ou deixamos de receber em um post, cobrança em conversas que às vezes você nem quer ter e o medo de estar perdendo alguma coisa interessante. Comentários, curtidas e compartilhamentos são formas de vender nossa atenção utilizando o método de pagamento chamado de “moeda social” e é na escassez dessa “moeda social” que vemos índices de depressão e ansiedade em ascensão com o passar do tempo. O mais doido é pensar que temos fácil acesso à experiência de estar em um grande shopping de validação social dentro de uma bolha social analiticamente personalizada para cada usuário."

A Espiritualidade pode Pacificar a Sociedade? 

Por Artur Martinhago Aguiar.

 

"A guerra entre “o que eu acredito” contra “o que você acredita”, é praticamente um resumo de toda a história humana. Sempre vivemos em sociedades polarizadas e radicais, mudando somente os nomes. O eterno “nós” contra “eles”. Desenvolver a espiritualidade, em última análise, é passar a compreender a vida a partir do ponto de vista do Espírito. Que este corpo imaterial é dotado de consciência e está vivendo temporariamente neste plano físico. Logo, ninguém é detentor de verdades universais. A busca pelo desenvolvimento espiritual necessita de autoconhecimento. Para cessar a violência que vemos no mundo externo, precisamos aprender a lidar com as nossas sombras, medos, traumas e condicionamentos. Não é possível pacificar a sociedade enquanto existir tantas guerras dentro de cada indivíduo. Não é somente um trabalho intelectual, mas afetivo. Para mudar o mundo, precisamos primeiro nos transformar como indivíduos e olhar para o outro como alguém que pode nos ampliar e ajudar em nossa jornada. É um tipo de olhar mais cooperativo do que competitivo.A polarização não faz sentido quando se pensa espiritualmente, pois estamos todos no mesmo barco, confusos e buscando um norte em nossas vidas. Precisamos cooperar para evoluir e sobreviver enquanto espécies."

SERVIÇO:

O QUE: Sh*ft Festival

QUANDO: 3 de Dezembro de 2022, sábado - das 9h às 18h

LOCAL: Ágora Tech Park / Perini Business Park, Distrito Industrial - Joinville/SC

MAIS INFORMAÇÕES E INGRESSOS: https://www.shiftfestival.cc/

 

Texto: Fabi Henrique para Casa de la Gracia Comunica

Foto: Aaron Blanco Tejedor/Unsplash