Neste apartamento em um edifício da década de 1960, no bairro de Higienópolis, o artista vive rodeado por móveis modernistas herdados de família, quadros, pinturas e esculturas de colegas, além de um conjunto bem-humorado de brinquedos colecionáveis
Dedicada à Arte, a edição de setembro da revista Casa Vogue apresenta a residência do artista Artur Lescher, em São Paulo. Do alto do nono andar, em frente a uma praça de Higienópolis, na capital paulista, a luz solar valoriza cada detalhe do apartamento: o piso de taco original do prédio da década de 1960, o mobiliário moderno brasileiro, brinquedos colecionáveis, exemplares de seu portfólio e também produções de colegas de profissão.
O lar amplo – com 200 m², living integrado, três quartos e cozinha – não frustra as demandas de quem, até cinco anos atrás, sempre viveu em casa. Para Lescher, a área generosa, a iluminação natural farta, o pé-direito alto e, principalmente, as muitas paredes fizeram a diferença na hora de eleger o novo endereço. “Eu preciso disso”, enfatiza. Não é de admirar, considerando a quantidade de obras de arte montadas pelos cômodos. Ele, no entanto, não se vê como colecionador. “Cultivo uma relação afetiva com esses itens. Grande parte deles resultou de trocas com amigos, algo que gosto muito de propor. Digo isso porque uma coleção, para ganhar esse nome, precisa passar por uma edição, ter um projeto”, esclarece.
O acervo reúne nomes como Lenora de Barros, Antonio Dias (1944-2018), Maria Leontina, Paulo Pasta e uma grande série do carioca Júlio Martins da Silva (1893-1979). “Esta última, sim, pode ser chamada de coleção”, afirma o anfitrião. As pinturas a óleo, que retratam cenas idílicas urbanas e campestres, tomam conta da principal parede da sala de estar e ecoam a copa das árvores das redondezas.
“Tenho uma relação afetiva com as obras de arte deste apartamento. A maioria delas veio de trocas com amigos, algo que gosto muito de fazer”.
Na foto, destacam-se o conjunto de sofá e poltronas, de Rino Levi, e a mesa de centro, de Antonio Vespoli – na parede lateral, gallery wall com a coleção de pinturas de Júlio Martins da Silva; foto_Ruy Teixeira
Curiosamente, o primeiro trabalho de Lescher (conhecido pelas obras tridimensionais), a receber as visitas no corredor entre o elevador e a porta de entrada, é um desenho assinado em 1983, que antecede a passagem, em sua prática, para a terceira dimensão. “Na época, frequentei a aula de desenho de observação com o Fajardo e a partir daí comecei a pensar a materialização no espaço real, para além do papel”, conta. Contrariando expectativas, há poucas esculturas de sua autoria na residência: entre elas, um grande pêndulo dourado suspenso ao lado da porta-balcão da varanda e um par de pedras de basalto preto no piso.
Apesar de a rotina se dividir entre o apartamento e o estúdio na Vila Leopoldina, suas invenções nascem em um local intangível: a mente. “É na cabeça que o traço acontece. Às vezes acordo à noite, tenho uma ideia no sonho e faço o esboço. O estúdio é apenas o espaço onde vou viabilizá-lo. Eu trabalho onde estou, no sítio, no ateliê, em casa”, resume. A matéria completa pode ser conferida na edição de setembro de Casa Vogue.
Texto: Suellen de Andrade/ a4holofote comunicação
Fotos: Ruy Teixeira