Publicado em 15/09/2022

O design-marcenaria de Ricardo Graham Ferreira

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Livro sobre expoente de geração contemporânea que une marcenaria e design apresenta sua produção, seu processo, suas ideias e sua oficina na serra fluminense.

A dinâmica cena do design brasileiro tem um destaque em evidência nos últimos anos: a auto-produção em madeira, de designers que desenvolvem e produzem artesanalmente suas criações em oficinas próprias. O livro Ricardo Graham Ferreira, o ebanista aborda de maneira íntima o trabalho de um dos expoentes dessa geração, instigando o leitor a criar sua própria interpretação formal e afetiva através de um conjunto de registros e depoimentos de pessoas que fazem parte de sua vida. Mais do que guiar cronologicamente ou pela técnica, a intenção é deixar o olhar se perder, descobrir aquilo que lhe atrai, emociona. Por isso mesmo, foi fundamental que cada peça fosse apresentada em seu contexto de criação – a oficina, para que a narrativa se estenda entre obra e entorno; entre inspiração e resultado. Um reflexo da simbiose entre corpo e matéria-prima, a conjunção de vidas e ciclos distintos num objeto que perdure.

A publicação bilingue é uma parceria da Precious Woods, madeireira suíça cuja operação na Amazônia é referência de manejo sustentável, com a Editora Olhares, que acumula amplo catálogo sobre o design brasileiro. Com texto de apresentação e entrevista conduzidos pelo curador Bruno Simões, conta também com comentários do próprio designer além contribuições do colega de ofício, Fernando Mendes, de Stephane Glannaz, diretor da Precious Woods, e de Maria Eduarda Carneiro da Cunha, organizadora do livro e parceira de vida e de empreitada de Ricardo.

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 O livro será lançado no dia 2409 na Gozto, galeria de design no Rio de Janeiro. Em seguida, terá lançamento também na Semana Criativa de Design, em Tiradentes, no dia 2210.

 “Em seu trabalho, a prioridade não é a escala, mas a qualidade do que é realizado de acordo com as regras da arte da marcenaria, qualquer que seja o nível de dificuldade. (…) A precisão das obras de Ricardo vem desse olhar e dessa comunhão, que faz com que cada uma delas exale uma verdade que ressoa de forma particularmente forte neste mundo cada vez mais sem sentido. Esse envolvimento profundo é certamente o elemento que mais nos chamou a atenção e, portanto, a origem de nossa colaboração”

Stephane Glannaz

 “Ricardo se aventura em soluções criativas nas estruturas de suas peças sem renunciar ao conhecimento tradicional da marcenaria. A integração entre imaginação e saberes resulta em móveis expressivos na sua contemporaneidade e antecede tempos futuros que transformarão suas criações em clássicos do design brasileiro.”

Fernando Mendes

“Não é tarefa fácil encontrar o equilíbrio entre o trabalho de criação e a produção artesanal, diretamente conectados com o tempo da natureza, e a realidade financeira do sistema que vivemos. (…) Buscamos o equilíbrio sem ferir o que definimos como nossos principais ativos: o amor e tempo.”

Maria Eduarda Carneiro da Cunha

 “Faz muito sentido a ênfase no termo “o ebanista” dada por Ricardo em sua marca. Trata-se simbolicamente de um ponto de convergência entre duas culturas, dois momentos; uma maneira histórica de afirmar que há em seu desenho uma assinatura reconhecível, um olhar delicado e atento que resgata e valoriza técnicas tradicionais aprendidas fora, enquanto persegue o traço curvo (e leve) do ideal moderno para exaltar a rica diversidade de madeiras nativas com que trabalha: roxinho, muirapiranga, muiracatiara, cumaru, cedro, sucupira vermelha, ipê, freijó, peroba mica e peroba do campo, obtidas tanto de manejos florestais certificados como de estruturas de antigas construções garimpadas pelo Brasil.

 

Ao fim, essa busca pela matéria-prima fundamenta todo o processo e se torna tão importante quanto a obra em si. Ricardo Graham Ferreira se insere numa geração de marceneiros brasileiros que encontrou na escassez um profundo respeito pelas madeiras nobres; aplicam uma atenção redobrada para que crimes do passado não se repitam, como no famigerado caso do jacarandá-da-baía; e fomentam tais desafios como uma oportunidade de investigar novas espécies e suas propriedades (como tom, cheiro e densidade) para imprimir um novo modelo estético e educar nosso olhar para a riqueza que nos cerca. A diversidade a partir da adversidade para interromper o ciclo de irresponsabilidade de consumo, os vícios de linguagem saudosistas, e propor ao ofício uma nova relevância.”

Bruno Simões

 

Texto: Patrícia Buarque/Compor Comunicação